90 anos, 90 profissões
Tenho uma grande amiga que trabalhou com marketing por mais de 10 anos. Ela cresceu na carreira e chegou a gerente em uma seguradora. Uns anos atrás, decidiu passar um tempo fora do Brasil e acabou se afastando do marketing por uns 3 ou 4 anos.
Pois estávamos conversando outro dia e ela me disse: “não sei se perdi o bonde do marketing ou se fui atropelada por ele”. Ela percebeu que o mercado tinha mudado de forma drástica nestes poucos anos em que esteve ausente.
A experiência que ela está vivendo não é uma exceção. A velocidade das transformações em vários segmentos hoje em dia é tão rápida que ficar de fora até por uns meses pode dar uma sensação de que estamos defasados.
Minha amiga optou por mudar de área. Ela tem habilidades fortes, que podem ser úteis para setores bem diferentes. É organizada, detalhista, questionadora, focada em resultados, gosta de fazer tudo bem feito e é extremamente dedicada ao que faz. Além de ter muita experiência profissional.
Decidiu aprender UX Design, uma área que conhece um pouco, mas em que quer se aperfeiçoar. Ainda não sei qual caminho pretende percorrer. Imagino que faça alguns cursos, leia algum livro, comece a seguir alguns profissionais de referência nas redes sociais, busque novos relacionamentos… Enfim, há muitas possibilidades.
Repetindo, esta mudança de carreira não é mais exceção. Conheço cada vez mais gente que passa por isso e eu mesma já fiz minhas transições.
Nem sempre é fácil, mas esta é uma tendência para todos. Uma mudança no mercado de trabalho. Algumas pessoas se dão melhor com estas transformações, outras têm mais dificuldade.
As previsões que se faziam há alguns anos foram acertadas, neste caso. Dificilmente alguém terá só uma profissão pela vida toda.
Por outro lado, os empregadores vão precisar aprender a contratar mais por habilidades e menos por “profissão”.
Além disso, a centralidade do lifelong learning nas nossas vidas fica cada vez mais evidente. Para que este processo contínuo de qualificação e requalificação (reskilling, upskilling) aconteça, os profissionais precisam estar abertos a aprender o tempo todo.
Yuval Harari, no livro 21 Lições para o Século 21, já dizia: “Será, sim, uma torrente de rupturas cada vez maiores. Já hoje poucos empregados esperam permanecer no mesmo emprego por toda a vida. Em 2050 não apenas a ideia de ‘um emprego para a vida inteira’ mas até mesmo a ideia de ‘uma profissão para a vida inteira’ parecerão antidiluvianas.”
Em outro momento, ele escreve: “Para poder acompanhar o mundo de 2050 você vai precisar não só inventar novas ideias e produtos — acima de tudo, vai precisar reinventar a você mesmo várias e várias vezes.”
Ele escreveu isso antes da pandemia. Me parece que não precisaremos esperar até 2050. A mudança já começou.
Embora possam causar medo nessa fase de transição, estas transformações podem ser também libertadoras. Saber que podemos nos desenvolver e experimentar em novos campos pode tornar a vida profissional mais interessante e, ainda, nos livrar de rótulos, que muitas vezes limitam nossas possibilidades.
Há uns anos fiz uma transição da área de Relações com Investidores para a área de Educação Executiva. Talvez, uma década antes, teria sido muito mais difícil, senão impossível passar por essa mudança. Isso era bem menos aceito.
Para mim, era uma questão de paixão. Eu queria seguir meu propósito e seria, provavelmente, mais infeliz se não pudesse mudar de profissão. Hoje, percebo que isso é bem mais comum. Conheço muitas histórias bem sucedidas de transição de carreiras e imagino que você também conheça algumas.
Como falou meu irmão, no futuro serão “90 anos, 90 profissiões”. Uma brincadeira, baseada numa monografia que ele leu em 2006 (!). Mas, convenhamos, uma ótima provocação.
Então, abram alas para o Lifelong Learning.