A beleza de ser um eterno aprendiz

Nira Bessler
2 min readNov 22, 2021

Num determinado momento, por algum motivo, minha avó não queria mais aprender muito. Era uma mulher incrível, que teve seus sofrimentos.

Mas, como disse, num determinado momento, ela não queria mais aprender… a mexer no vídeo cassete, a usar batedeira (claras em neve pro bolo maravilhoso, só na mão), a conhecer novas gírias, a viajar e descobrir novas culturas. Ela passou a ter uma rotina muito regrada, com poucas mudanças.

Sim, minha avó teve depressão por bastante tempo. E, mais tarde, Alzheimer, o que só agravou a situação dela.

Não vou entrar em detalhes de por que ela chegou neste ponto e muito menos julgá-la. Como disse, era uma mulher incrível, grande contadora de histórias e uma pessoa de muita sabedoria. Era uma referência de amor para mim. O objetivo do texto é apenas pensar um pouco sobre esse caminho dela.

Parar de aprender é, num certo sentido, se fechar para a vida.

Alguns neurocientistas definem a realidade como uma “alucinação controlada”. Porque tudo o que vemos, ouvimos, sentimos, é intermediado pelos nossos sentidos e pelo cérebro. E o cérebro está guardado em um crânio escuro. Não acessa a realidade diretamente. Também porque, para sermos rápidos, muitas vezes acessamos nossas memórias e nosso passado e não o mundo externo (quer saber mais? Assista a este TED).

Assim, aprender exige sair de uma certa zona de conforto, da facilidade de acessar o que já sabemos, e nos abrir para o mundo. Precisamos prestar atenção no exterior, aguçar nossos sentidos, fazer novas conexões. Isso pode ser bem cansativo, literalmente. Aprender algo novo é uma das atividades humanas que mais gastam energia, depois dos exercícios físicos.

Gonzaguinha consagrou em sua canção o “eterno aprendiz”. E quem é o eterno aprendiz? Aquele que quer viver e não ter a vergonha de ser feliz. Aquele que se abre para o mundo. Que tenta, arrisca, e às vezes erra, mas aprende com seus erros e segue.

Para mim, aprender é ter conexão com os outros e com o mundo. É estar aberto ao novo. É questionar seus próprios conhecimentos.

Minha avó se chamava Alegria. Durante muito tempo, sua vida refletiu seu nome. Num certo momento, menos. Apesar de tudo, ela sempre me chamou para a vida. Sempre me contou histórias e apoiou minhas decisões mais difíceis, como mudar sozinha para São Paulo aos 24 anos. Se ela já não queria mais aprender muita coisa num certo momento da vida dela, ela fez questão de que comigo fosse diferente. Hoje, graças a ela, em grande medida, me considero uma eterna aprendiz.

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