A educação perdeu de vista a aprendizagem — inclusive no mundo corporativo

Nira Bessler
2 min readDec 27, 2019

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Educação e aprendizagem são a mesma coisa? Deveriam ser, mas na prática não são.

Um sistema educacional muito parecido com o de hoje foi criado no século XIX para treinar estudantes a ser obedientes e aceitar certas regras e costumes como verdadeiros.

Neste sistema, os estudantes aprendem de fato? Muito pouco. Medo e ansiedade são sua a base — medo de não passar na prova, de repetir de ano, de sofrer punições.

O aluno talvez aprenda como ser aprovado em provas, mas, muitas vezes, não o conteúdo que se pretende transmitir.

E aí está um dos problemas: não somos computadores que armazenam informações fazendo um download. A simples exposição a um conteúdo não garante a aprendizagem.

Hoje sabemos que não há aprendizado sem emoção. Se é real a tese de que nossa memória não armazena fatos, mas apenas nossa reação a uma experiência ou informação, o aprendizado depende de como nos sentimos em relação a estas experiências e informações.

Ou seja, não aprendemos sem envolvimento emocional.

Como já escrevi em outro texto, não aprendemos aquilo que não nos concerne, que não nos preocupa, que não nos sensibiliza, que não nos afeta, que não nos importa.

E o sistema educacional tradicional, em geral, simplesmente ignora os nossos sentimentos. Parte do falso princípio de que somos puramente racionais.

Por isso, pensando no mundo corporativo, não há por que restringir o aprendizado à sala de aula. Ele acontece das mais diversas formas o tempo todo: nas conversas entre colegas, numa busca no Google, em vídeos no Youtube etc. etc.

Isso quer dizer que a área de educação corporativa deixou de ser necessária? Não, mas ela precisa se reinventar, para priorizar a aprendizagem de fato e não mais o treinamento.

O meio como se aprende é consequência de uma análise. Checklists, formulários, sites, campanhas, WhatsApp, vídeos, realidade aumentada, simuladores, jogos… Tudo vale.

O mais importante é levar em conta os interesses, preocupações, bagagens e vivências do seu público-alvo.

A educação perdeu de vista a aprendizagem porque, na maioria das vezes, não leva em consideração nada disso. Às vezes, trabalha até contra seu objetivo ao reproduzir um sistema simplesmente porque “sempre foi assim”.

Portanto, para encerrar, deixo aqui uma pergunta para reflexão: precisamos de áreas de treinamento ou áreas de aprendizagem?

>>>> Gostou deste texto? Ele foi inspirado pela leitura do livro How People Learn, do britânico Nick Shackleton-Jones. Leitura mais que recomendada!

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Nira Bessler
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Written by Nira Bessler

Lifelong learner. Apaixonada por aprendizagem.

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