EdTech Conference 2020 — O que mais rolou?
Ontem escrevi a respeito das primeiras apresentações da manhã do EdTech Conference, que foram superinteressantes e cheias de insights. Neste texto, vou falar um pouco das palestras que assisti depois.
Mas, antes, só para recapitular, foram três as mensagens que permearam praticamente todas as falas da conferência:
- A aprendizagem acontece em qualquer lugar a todo momento
- A tecnologia não é um fim e sim um meio
- As habilidades socioemocionais devem ser trabalhadas em todas as etapas do desenvolvimento humano, da infância até a vida adulta
As quatro primeiras palestras da manhã foram de Cristiano Kruel, Gino Terentim, Luciano Meira e Emilio Munaro. Falei sobre elas no primeiro texto.
O evento seguiu com mais três apresentações na plenária principal e, depois, houve uma divisão em quatro trilhas: Da Educação Infantil ao Ensino Médio; Ensino Superior & Pós Graduação; Novas Metodologias e Tecnologias e, por fim, Educação Coporativa e Lifelong Learning.
Eu não segui nenhuma das 4. Foquei no meu interesse, que é aprendizagem de adultos.
Mas vamos ao que interessa. Aqui estão alguns destaques das palestras que assisti.
Não a conhecia e fiquei E-N-C-A-N-T-A-D-A com o trabalho que ela trouxe ao Brasil. A Karen fundou a Escola 42 São Paulo. E o que é a 42? Uma escola de programação nada convencional.
Ela foi criada na França e não tem praticamente nada do que você imagina numa escola deste tipo. Provas? Não. Turmas? Não. Professores? Não. Horários, carga horária e grade curricular? Não. Mensalidade? Não. E o processo seletivo? É concorridíssimo e começa com um jogo.
É um caso perfeito para algumas das ideias que foram discutidas pela manhã, porque mostra que as pessoas podem aprender de uma forma bem diferente. A escola aposta na autonomia e na motivação intrínseca das pessoas, respeita suas diferenças quanto a ritmos e formas de aprendizagem, melhores horários etc. Tudo acontece de forma bem colaborativa, pelo que entendi. E há desafios e conquistas a serem atingidos. O processo é todo gameficado.
Um ponto que achei muito legal da apresentação da Karen é a diversidade de perfis dos alunos: idades, profissões, backgrounds… 72% das pessoas NUNCA programou.
Outro conceito interessante: a construção de um ambiente de confiança, em que as pessoas podem errar e ser vulneráveis.
A fala da Gabriela me interessou muito, porque ela é diretora de Gente, Cultura e Inovação na Cogna. Imagina a dimensão do desafio dela! Para quem não ligou o nome à pessoa, ou melhor, a marca à empresa, a Cogna era conhecida como Kroton. São 28 mil colaboradores, 2,3 milhões de alunos e 5,4 mil instituições de ensino no Brasil.
Um registro que não posso deixar passar: como é bom ver mulheres jovens como ela e a Karen falando sobre trabalhos incríveis e complexos que estão realizando em posições de liderança!
Ela explicou o case do desafio que estão vivendo de adaptar a cultura da Cogna ao atual mundo VUCA. Não vou detalhar aqui, mas eles estabeleceram prioridades claras sobre o tempo e os recursos que pretendem investir, considerando os 3 pilares do slide abaixo.
Este outro slide mostra as perguntas que guiam seu processo de inovação.
E, aqui, os principais aprendizados que ela compartilhou:
- Tenha seu CEO mais engajado que você
- Se conecte sempre: a conversa é o melhor aprendizado
- Busque aliados por toda empresa e no ecossistema
- Pessoas antes de processos
- A cultura engole a estratégia no café da manhã. O líder come a cultura o dia inteiro!
Depois da palestra da Gabriela, veio o Alexandre Campos Silva, que é Head da Google Education Brasil.
Engajamento foi um dos principais temas. Ele fez uma pergunta que parece óbvia, mas gostei da resposta. “O que mudou na sala de aula de 1950 para hoje?” Pouco, mas a principal mudança é nos alunos, que não têm mais paciência para ficar quietinhas copiando a lousa ( mesmo ponto destacado pelo Luciano Meira, de manhã).
Ainda sobre engajamento, ele lembrou da liberdade que o Google dá a seus engenheiros para trabalhar 20% do tempo em projetos pessoais. As chances de sucesso é destes projetos são maiores, justamente pela paixão com que são feitos. Então por que os alunos não têm liberdade de escolha nas escolas?
E como não poderia deixar de ser, defendeu o uso de tecnologias do Google para ajudar a engajar os alunos em sala de aula. Um ponto interessante é o fato de serem tecnologias já conhecidas e intuitivas.
No final, destacou 8 tendências emergentes na educação básica (slide abaixo).
Depois da palestra do Alexandre, começaram as trilhas. Vou falar só da primeira, que foi a que mais me pegou.
Fiquei encantada com a Flora!
Ela levantou uma questão que considero fundamental na hora de criar uma solução de aprendizagem para adultos: disponibilidade para aprender. Existe um desejo e uma necessidade incorporadas pelo aprendiz? Como mobilizá-lo? ( Tem a ver com o que trago neste artigo, com uma perspectiva diferente.)
Outro questionamento dela: como ainda temos coragem de usar o LTN, Levantamento de Necessidades de Treinamento? Não faz sentido! Ele simplesmente não leva em consideração quem são os aprendizes nem quais são seus sentimentos e background.
Enfim, ao longo da sua fala ela escancarou contradições do treinamento corporativo como acontece hoje, inclusive um dado estatístico chocante: só 16% daquilo que as pessoas aprendem são colocados em prática! É muito pouco…
E o que ela propõe? Flora criou uma ferramenta baseada em Canvas justamente para ajudar a sair do habitual na hora criar uma solução de aprendizagem e manter o foco em quem importa, o aprendiz.
Gostei tanto que comprei o livro dela: Design de Aprendizagem com Uso de Canvas
E até ganhei um autógrafo. :)
Depois da palestra dela, assisti a mais duas apresentações, que foram cases interessantes, mas acho que não há muita novidade a compartilhar.
O que posso dizer é que valeu a pena participar. Aprendi, reforcei ideias e conceitos que acredito (vi que não estou sozinha! ) e descobri novas perspectivas. E ainda conheci pessoas interessantes e inspiradoras! Para que serve um evento como este senão para isso?
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