Eliminar o aprendizado é papel da área de treinamento?
Quantos números de telefone você sabe de cor?
Suponho que muito poucos. Ou mesmo só um, o do seu próprio celular.
Talvez sua resposta seja diferente se você tiver mais de 35 anos. Neste caso, você deve lembrar de alguns contatos mais antigos.
No passado, era normal decorar os números que mais usávamos. Isso porque éramos obrigados a discar a sequência a cada ligação.
O advento do celular simplesmente eliminou a necessidade deste aprendizado.
E, depois, aplicativos em smartphones fizeram o mesmo por outros conhecimentos.
Antes, um bom taxista conhecia a maior parte das ruas de sua cidade e os melhores caminhos. E isso, muitas vezes, exigia anos de treino.
A popularização do GPS eliminou a necessidade deste aprendizado também.
O conhecimento não está mais na cabeça do motorista, mas sim em um aparelho à sua frente. E isso permitiu que milhões de pessoas se tornassem motoristas profissionais, através de aplicativos como o Uber.
Há quem defenda que, hoje, um dos papéis do profissional de treinamento e desenvolvimento é semelhante a estes exemplos: não só oferecer conhecimentos, mas também eliminar a necessidade de aprendê-los, quando possível.
Como? Oferecendo recursos em vez de cursos.
E o que são recursos? Em inglês, estes recursos são chamados de job-aids. Guias, checklists, lembretes, planilhas de cálculos, vídeos de passo a passo… Num futuro breve, a Realidade Aumentada (ela poderá substituir um manual ou até ajudar nas boas-vindas de novos funcionários. A realidade misturada já está sendo usada desta forma em fábricas, como podemos ver aqui).
Outro exemplo são aquelas sequências guiadas de telas, explicando como usar um aplicativo ou uma atualização que você acabou de baixar. Hoje, há ferramentas voltadas para o ambiente de trabalho que permitem construir este tipo de tutorial com facilidade e flexibilidade, como o Walk Me ou o Guide Me.
Em muitos casos, eles vão ser mais eficientes do que um e-learning, porque são facilmente acessados.
Você pode estar pensando: que absurdo! Eliminar o aprendizado é uma forma de diminuir o papel das pessoas, de menosprezar seu desenvolvimento.
O fato é que, na prática, muitas vezes este processo acontece naturalmente. Por exemplo, quando você tem uma dúvida no trabalho e prefere consultar o Google ou um amigo. Ou quando faz uma atividade com frequência e repetidamente busca um tutorial no YouTube.
O que estou pontuando é que, em algumas situações, a velocidade importa. E, nestas situações, o processo de aprendizagem pode ser longo e complicado demais para a tal tarefa. Como no caso do GPS: não compensa mais aprender todas as ruas da cidade.
É claro que isso não serve para tudo. A ideia é se questionar constantemente se um curso é mesmo a melhor forma de solucionar o problema em questão.
Me defino como uma lifelong learner. Não há nada que goste mais do que aprender coisas novas e refletir sobre o que me interessa e instiga.
Por outro lado, há tanto o que descobrir e tanta novidade que é preciso saber administrar bem o tempo.
Quero me dedicar àquilo que realmente exige mais foco. O que não é essencial, sim, prefiro um aplicativo, um checklist, um recurso rápido para resolver o meu problema e que libere tempo para aquilo que realmente importa.
E você?