Microlearning: muito além de um vídeo curto

Nira Bessler
3 min readJan 27, 2020

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Microlearning é um tema bem recorrente quando falamos de aprendizagem corporativa.

Mas o que é microlearning? Será que é só fazer vídeos curtinhos? Eu acho que não.

Antes de explicar melhor o meu entendimento do assunto, queria contar um diálogo que tive recentemente com meu pai.

Ele é um grande violinista, que começou aos 5 anos e até hoje pratica algumas horas por dia. Quando está estudando uma peça, para quem está ouvindo, parece bem maçante: ele repete o mesmo trecho de novo e de novo.

“Como você faz para a repetição não ser chata, pai?”

“Sempre tenho um objetivo, algo que quero melhorar na minha performance. Mentalmente, busco evoluir em alguma coisa: uma ideia, um fraseado. Nunca é exatamente a mesma coisa. Não é uma repetição mecânica”

Mas o que isso tem a ver com microlearning?

Em sua fala, meu pai basicamente descreveu o que os especialistas chamam de “prática deliberada” — a ideia de que a prática que leva ao expertise não é uma mera repetição. Ela precisa ter um propósito e, a cada nova tentativa, a busca por uma pequena melhoria.

Ou seja, não basta repetir, é preciso tentar sempre avançar um pouco.

É sobre este “avançar um pouco” que quero falar.

Claro que nem todo mundo quer ser um expert. Mas, ainda que não busquemos a maestria, temos muito a aprender com o caminho que os mestres traçam para se desenvolver.

Uma grande habilidade é formada por várias mini-habilidades. Uma grande tarefa por várias pequenas tarefas. Um grande objetivo por vários pequenos objetivos.

No caso do meu pai, quando ele quer melhorar a interpretação de uma peça, ele busca evoluir sempre em alguma coisa, por exemplo, um fraseado da música.

É um pequeno objetivo que leva a um propósito maior, neste caso, interpretar um concerto.

E, na minha visão, esta é uma das três característica do microlearning: ele é uma pequena tarefa ou conteúdo que tem um objetivo em si mas também pode fazer parte de um propósito maior.

Assim como na prática deliberada, dividir um grande objetivo em pequenas tarefas é uma boa estratégia de aprendizagem.

Se queremos, por exemplo, apoiar a performance de um líder, podemos avaliar quais tarefas ele precisa realizar para se tornar melhor em seu novo cargo.

Um desafio comum de um gestor é o de dar feedbacks que sejam efetivos e melhorem o desempenho da equipe.

E o que envolve dar um bom feedback?

  • Ser um bom ouvinte
  • Se colocar no lugar de quem está recebendo o feedback (ter empatia)
  • Listar fatos e acontecimentos que embasam sua fala
  • Ter uma comunicação clara e construtiva
  • Etc. etc.

Permitir que o líder pratique estas habilidades ou oferecer recursos para apoiá-las pode ser mais efetivo do que simplesmente falar sobre conceitos e ideias mais abrangentes a respeito de liderança.

Mas e o microlearning nesta história?

Este compartilhamento é uma das características do microlearning: dividir o aprendizado em pequenos objetivos ou tarefas.

As discussões sobre microlearning muitas vezes vão na direção de outros dois aspectos que também o caracterizam: ter curta duração e ser oferecido espaçadamente.

Mas, na minha visão, estes dois pontos não são suficientes. Um vídeo curto, por exemplo, não necessariamente é microlearning — até porque em um vídeo de, digamos, 10 minutos, podemos ter um monte de informação que não sensibiliza o aprendiz.

E aí não é microlearning porque, com excesso de informação, dificilmente acontece “learning”. Simplesmente, não temos a capacidade de absorver tantas informações ao mesmo tempo.

Também não podemos reduzi-lo à questão do aprendizado espaçado, embora este também seja importante. Centenas de estudos demonstram que a chance de o aprendizado se consolidar com repetições espaçadas é muito maior do que se você entrar em contato de uma só vez com uma quantidade massiva de informação (o que é “espaçado” depende do estudo/prática — podem ser intervalos de tempo maiores, como dias e semanas, ou até apenas alguns minutos para o cérebro “descansar”).

O microlearning é uma estratégia que pode ser combinada com o aprendizado espaçado, ajudando a manter a atenção e evitar o tédio.

Mas isso também não basta para defini-lo.

Resumindo, microlearning, nesta visão, envolve três características: uma tarefa ou um objetivo específico, curta duração e apresentação espaçada, em pílulas, podendo fazer parte de um propósito maior.

E você? O que pensa sobre microlearning?

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Nira Bessler
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Written by Nira Bessler

Lifelong learner. Apaixonada por aprendizagem.

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