Questionar por quê?
Minha mãe é israelense. Não sei se você conhece alguém nascido em Israel, mas é um traço cultural, um impulso quase incontrolável, questionar tudo. Não aceitar simplesmente as coisas como são — discordar — é algo natural, praticamente um comportamento automático. Diria que, às vezes, um pouco até além da conta.
Nós brasileiros, por outro lado, acreditamos que conflito é algo negativo, estressante. Geralmente, encaramos discordâncias como brigas; consideramos críticas às nossas ideias como ofensas pessoais. Por isso, no ambiente de trabalho, às vezes preferimos não nos manifestar quando pensamos de forma diferente, para não criar um conflito.
É claro que em ambos os casos estou exagerando. Nenhuma cultura é homogênea. Em culturas regionais ou profissionais específicas, encontramos situações diferentes. Estou me referindo a uma tendência mais ampla.
Pois eu, como filha de uma israelense e um brasileiro, nascida por aqui, vivenciei esta dicotomia por muitos anos sem ter plena consciência dela. Então, muitas vezes questionava as coisas e era mal compreendida. Ou então não entendia quando minha mãe se manifestava em conversas de uma forma pouco usual no Brasil.
Fui compreendendo tudo isso aos poucos. Uma fase marcante foi quando morei por dois meses em Tel Aviv por conta de um estágio de verão no Bank Hapoalim. Ali, fui entender melhor as origens da minha mãe. E também lá tive palestras sobre diferenças culturais que nomearam e deixaram mais claros vários dos meus sentimentos ambíguos.
Ser questionadora é parte da minha criação. É claro que, no processo de amadurecimento (que espero que só termine no meu derradeiro suspiro), fui percebendo que a forma como manifestamos estes questionamentos também é muito importante (e aí a cultura brasileira ajuda muito). Principalmente, quando estamos em um ambiente que não favorece este comportamento.
Só que, nos últimos anos, com as mudanças que o mundo corporativo vem sofrendo, com o mundo VUCA (Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo), com a inevitável necessidade de se adaptar a um mundo em constante transformação, a capacidade de questionar e refletir tem sido cada vez mais celebrada — ao menos na teoria. Sem questionamentos não inovamos. É um dos passos importantes.
A busca por ambientes que dêem segurança para que as pessoas se manifestem, sejam mais autônomas e verdadeiras tem se tornado cada vez mais importante.
Como criar um ambiente em que conflitos de ideias não gerem brigas ou se tornem ofensas pessoais? Como criar ambientes colaborativos e criativos, em que discordâncias não se tornem competições sobre quem está certo? Como transformar perspectivas diferentes em oportunidades de aprendizado e criação?
Estas são algumas das perguntas que surgem quando pensamos em implementar práticas mais colaborativas e inovadoras. Provavelmente, há duas mãos aí: a criação de ambientes que permitam — e até estimulem — comportamentos questionadores, mas também a formação e o desenvolvimento de cada um de nós, como indivíduos.
Neste momento, estou terminando de ler um livro que fala justamente sobre o desenvolvimento de culturas de aprendizagem. Uma das questões relevantes: a aprendizagem para o presente precisa ser combinada com a aprendizagem para o futuro.
Mas vou deixar essa frase no ar e explicar melhor em outro texto.