Storytelling e Aprendizagem — Por que funciona?
Em 1885, um cientista alemão, Hermann Ebbinghaus, teve uma ideia brilhante! Para descobrir quanto tempo durava uma informação na nossa memória, pediu que algumas pessoas decorassem grupos de três letras sem sentido. Depois, acompanhou a taxa de lembrança destas “sílabas” em certos intervalos de tempo.
O resultado está no gráfico abaixo, um desastre!
No mundo anglo-saxão, é muito comum que se use a curva de esquecimento de Ebbinghaus para justificar a necessidade de repetição para consolidar o aprendizado.
Só que há um porém. A pesquisa de Ebbinghaus trabalha com a memorização de três letras SEM SENTIDO. O que isso revela? Qual é a relação afetiva que alguém tem com este “conteúdo”?
Se considerarmos que toda memória é afetiva (conceito que expliquei neste artigo), emoções são essenciais no processo de aprendizagem. Portanto, a nossa capacidade de decorar três letras non-sense seria naturalmente reduzida.
A repetição pode ser um “remédio” para permitir a memorização. Entretanto, com a repetição, corremos o risco de criar tédio (pense num adulto assistindo Teletubbies). E, se realmente a premissa de que precisamos de emoção para aprender for verdadeira, o tédio é o pior inimigo da aprendizagem.
Mas, e se, em vez de letras aleatórias, fossem histórias? Será que a curva seria a mesma?
Uma outra pesquisa fez um caminho diferente. Transformou uma lista de palavras em narrativas e comparou o nível de memorização das palavras em dois grupos, um que recebeu apenas as listas de palavras e outro que recebeu as narrativas. O resultado: histórias são 7x mais lembradas do que informações sem contexto.
Ou, pensando de outra forma, incontáveis atores já decoraram milhares de palavras num texto de Shakespeare. Se fossem palavras aleatórias e sem sentido, dificilmente teriam a mesma capacidade de lembrar. Ser um texto incrível e emocionante faz toda a diferença.
E há um tipo específico de história que não só melhora a memorização, mas também torna as pessoas mais propensas a agir. É aquela em que há um personagem central, com quem podemos criar empatia, e uma tensão narrativa, que prende nossa atenção. Desta forma, nós compartilhamos as emoções dos personagens e sentimos o que ele sente. E, assim, temos mais chance de agir sob o impacto de uma boa história.
Mas isso não significa que basta ouvir uma história uma vez para que o aprendizado aconteça. Embora o storytelling facilite o processo, a repetição continua sendo necessária para o aprendizado. Só que ela vai acontecer de uma forma um pouco diferente.
Por exemplo: pense em uma história marcante e emocionante da sua vida. Você deve lembrar muito bem dela. Agora, responda, quantas vezes você já contou para alguém este acontecimento? Imagino que, pelo menos, um punhado de vezes.
Ao elaborar mentalmente uma narrativa e falar ou escrever ou relembrar de suas impressões dos fatos, você mantém a história viva na sua mente. Este processo chama-se de “ensaio elaborativo”. Não deixa de ser uma forma de repetição, mas muito mais interessante do que simplesmente ler de novo e de novo uma palavra ou um grupo de letras sem nenhum contexto.
Estas são apenas algumas das pesquisas que mostram que contar histórias fazem toda diferença na aprendizagem. Há muitas outras que confirmam o poder das narrativas.
Como colocar isso em prática na aprendizagem corporativa? Na próxima semana, vou contar o case de um curso online que criamos para o mercado financeiro e mostrar como conseguimos uma taxa de avaliações positivas de 97% em um curso obrigatório, usando storytelling.
>>>> Gostou deste texto? Ele foi inspirado pela leitura do livro How People Learn, do britânico Nick Shackleton-Jones. Leitura mais que recomendada!