“O perfeito é o desumano porque o humano é imperfeito”

Nira Bessler
2 min readJul 28, 2021

“Me sentia como se não pudesse errar, como se tivesse que ser perfeita o tempo todo.”

Este desabafo veio de uma grande amiga, uma superprofissional, com muitos anos de experiência e cargo de gestão.

Ontem, tomando um café, ela me contou que era assim que se sentia em seu último emprego. Uma empresa bacana, com um propósito incrível, mas com uma cultura de concorrência que não condiz com sua razão de ser.

Já dizia Bernardo Soares, um dos heterônimos de Fernando Pessoa:

“Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; repugná-la-íamos se a tivéssemos. O perfeito é o desumano porque o humano é imperfeito”.

De certa forma, esta empresa busca o desumano. Gostaria que seus colaboradores fossem máquinas perfeitas, o que, claro, é uma desconexão da realidade, que deixa as pessoas esgotadas e doentes.

Mas o que eu queria enfatizar é que essa empresa também gostaria de ser inovadora. Como inovar sem permitir o erro? Na dúvida, melhor não trocar o certo pelo incerto, se você sabe que vai sofrer alguma retaliação ao menor deslize.

É tentador para a empresa jogar toda e qualquer responsabilidade sobre o que dá errado no colaborador. Só que, inevitavelmente, as empresas têm uma co-responsabilidade, uma vez que elas agem sobre os incentivos, a cultura, o ambiente.

Uma empresa que, supostamente, quer investir na aprendizagem e na inovação, deve incentivar autonomia, mas isso não significa deixar as pessoas à própria sorte nem se isentar de sua própria responsabilidade.

Ano passado escrevi um artigo sobre isso.

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