Para sair da zona de conforto, um ambiente de conforto

Nira Bessler
3 min readFeb 22, 2021
Photo by Brooke Cagle on Unsplash

Para sairmos da zona de conforto, precisamos de um ambiente de conforto. Por quê?

Nosso cérebro é um maestro que comanda a sinfonia do nosso corpo. Sua principal função não é pensar: é regular nossos sistemas para nos manter vivos e bem.

Quem disse isso não fui eu, mas uma neurocientista que admiro chamada Lisa Feldman Barrett.

Mas o que é “regular os sistemas do nosso corpo”? Metaforicamente, é ajustar o nosso “orçamento metabólico”.

Orçamento metabólico

Este orçamento, como o financeiro, tem entradas e saídas. De quê? Glicose, hormônios, oxigênio… Mas também carinho, acolhimento, luz natural.

Noites mal dormidas, por exemplo. Pense assim: se estamos negativos financeiramente, precisamos reduzir gastos. O mesmo acontece quando falta sono: nos sentimos fatigados, lentos, cansados. Isso porque nosso cérebro quer ajustar este déficit e economizar energia.

Agora imagina que o cérebro faz isso o tempo todo. Está continuamente atuando para sermos metabolicamente eficientes.

Só que nós temos recursos limitados.

O que isso significa para o mundo corporativo? Se o ambiente de trabalho é razoavelmente previsível, as pessoas são educadas, podem confiar umas nas outras e nas suas lideranças, conseguem dormir bem, se manter hidratadas etc., seu “orçamento corporal” será mais eficiente. E isso deixa mais recursos disponíveis para uma das atividades que mais demandam energia do ser humano: aprender coisas novas e, portanto, inovar.

Mas um ponto importante: não é que um ambiente deste tipo irá estimular as pessoas a aprenderem coisas novas. Ele não é suficiente, não basta. O que acontece é que se ganha eficiência, permitindo que as pessoas evitem gastos energéticos desnecessários (e muitas vezes inconscientes), para se concentrarem naquilo que é realmente importante. Com certeza, há outros elementos que influenciam a inovação, mas não vou entrar nesta questão aqui.

Previsões

Do ponto de vista da neurociência, nós agimos a partir de previsões — justamente porque esta é uma forma mais eficiente de atuarmos (escrevi sobre isso aqui e aqui). Quando aprendemos alguma coisa nova, precisamos sair do automático das previsões e usar energia para decifrar as informações que chegam dos nossos sentidos. É muito mais fácil continuar fazendo as coisas como sempre fizemos, desconsiderando em alguma medida o que chega do mundo externo, porque é menos cansativo.

Mas se queremos inovar, precisamos aprender e prestar atenção naquilo que nos tira da acomodação. Termos um ambiente acolhedor e confiável evita gastos desnecessários e libera energia para outras coisas.

Mais um aparte aqui: um ambiente de confiança não é onde questionamentos e conflitos (de ideias) são evitados. É justamente aquele onde se pode ouvir críticas a um trabalho e confiar que o intuito é melhorá-lo e não agredir pessoalmente quem quer que seja.

Zona de Conforto X Ambiente de Conforto

Por isso, quando ouvir que precisa sair da zona de conforto, pense bem: você não precisa de um ambiente estressante para isso. Pelo contrário, para se concentrar no que é relevante, quanto mais confortável, melhor.

O que geralmente chamamos de sair da zona de conforto, em busca de inovações, pede um ambiente positivo. Em que seu cérebro possa investir energia não em regular tantos déficits, mas em aprender e construir coisas novas.

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